de sofrer e amar, a gente não se desfaz.

11.7.11

só que minha violência para com deus tem que ser comigo mesma. tenho que me violentar para precisar mais. para que eu me torne tão desesperadamente maior que eu fique vazia e necessitada. assim terei tocado na raiz do precisar. o grande vazio em mim será o meu lugar de existir; minha pobreza extrema será uma grande vontade. tenho que me violentar até não ter nada, e precisar de tudo; quando eu precisar, então eu terei, porque sei que é de justiça dar mais a quem pede mais, minha exigência é o meu tamanho, meu vazio é minha medida. (...)

a tentativa de comer mais do que podemos para aumentarmos artificialmente a nossa fome - na exigência de vida tudo é lícito, mesmo o artificial, e o artificial é às vezes o grande sacrifício que se faz para se ter o essencial.

mas, já que somos pouco e portanto só precisamos de pouco, por que não nos basta o pouco? é que adivinhamos o prazer. como cegos que tateiam, nós pressentimos o intenso prazer de viver.
(...)

para termos, falta-nos apenas precisar. precisar é sempre o momento supremo. assim como a mais arriscada alegria entre um homem e uma mulher vem quando a grandeza de precisar é tanta que se sente em agonia e espanto: sem ti eu não poderia viver. a revelação do amor é uma revelação de carência - bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o dilacerante reino da vida.

se abandono a esperança, estou celebrando a minha carência, e esta é a maior gravidade do viver. e, porque assumi a minha falta, então a vida está à mão. muitos foram os que abandonaram tudo o que tinha, e foram em busca da fome maior.

a paixão segundo gh.

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