só que minha violência para com deus tem que ser comigo mesma. tenho que me violentar para precisar mais. para que eu me torne tão desesperadamente maior que eu fique vazia e necessitada. assim terei tocado na raiz do precisar. o grande vazio em mim será o meu lugar de existir; minha pobreza extrema será uma grande vontade. tenho que me violentar até não ter nada, e precisar de tudo; quando eu precisar, então eu terei, porque sei que é de justiça dar mais a quem pede mais, minha exigência é o meu tamanho, meu vazio é minha medida. (...)
a tentativa de comer mais do que podemos para aumentarmos artificialmente a nossa fome - na exigência de vida tudo é lícito, mesmo o artificial, e o artificial é às vezes o grande sacrifício que se faz para se ter o essencial.
mas, já que somos pouco e portanto só precisamos de pouco, por que não nos basta o pouco? é que adivinhamos o prazer. como cegos que tateiam, nós pressentimos o intenso prazer de viver.
(...)
para termos, falta-nos apenas precisar. precisar é sempre o momento supremo. assim como a mais arriscada alegria entre um homem e uma mulher vem quando a grandeza de precisar é tanta que se sente em agonia e espanto: sem ti eu não poderia viver. a revelação do amor é uma revelação de carência - bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o dilacerante reino da vida.
se abandono a esperança, estou celebrando a minha carência, e esta é a maior gravidade do viver. e, porque assumi a minha falta, então a vida está à mão. muitos foram os que abandonaram tudo o que tinha, e foram em busca da fome maior.
a paixão segundo gh.
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