de sofrer e amar, a gente não se desfaz.

2.10.11

yansã, quedê ogum?

Como a luta só termina quando existe um vencedor
Yansã virou rainha da coroa de Xangô





Aqui trago minha roupa
que recorda meu malfeito


de ofender dona casada
pisando no seu orgulho.

Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.

Olhei para a cara dela,
quede os olhos cintilantes?

quede graça de sorriso,
quede colo de camélia?

quede aquela cinturinha
delgada como jeitosa?

quede pezinhos calçados
com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela, 
boca não disse palavra.

[c.d.a.o caso do vestido]

não ligava nada nada pra esse poema. mas ontem, num sarau de aniversário, o meu amigo de olhos absurdos, joão, disse essa parte tão bem interpretada que me ganhou. sublinhava quando tinha que sublinhar as palavras, (dom que samuca soube muito bem sublinhar na arte da bethânia). também encarnava as personagens quando tinha que as encarnar. elas viravam vermelhas (as armas vermelhas de ogum) ou jeitosas, ou doloridas e rancorosas. ou incrédulas. era como se um só homem, intérprete, ator que empresta o corpo às palavras e estórias, tivesse em si várias mãos e todo o sentimento do mundo.

obrigada, joão, por todos nós, que sentimos a sala se tornar um aquário de silêncio e de ar denso; por todos nós, eletrizados pela história catastrófica e cadavérica dessa veste. obrigada por contar um causo.

a justiça pela traição foi finalmente forjada por ogum. o pano cai.

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