de sofrer e amar, a gente não se desfaz.

30.11.11

comprei "os sete contra tebas", apesar de.

eu juro que, andando na rua, às vezes, não por causa do título da minha dissertação, fico pensando no poema da sophia, que inaugura o primeiro livro que ela publicou, em 1944, com exatamente a minha idade.


Apesar das ruínas e da morte,

Onde sempre acabou cada ilusão,

A força dos meus sonhos é tão forte,

Que de tudo renasce a exaltação

E nunca as minhas mãos ficam vazias.

e a vida tem sido de uma resignação que me propele pra frente sempre apesar de. talvez por isso eu tenha me lembrado de um trecho da clarice:


“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.

Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita fui a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.” 

(uma aprendizagem ou o livro dos prazeres)

deixei de escrever durante umas três semanas, durante as quais tenho me corroído - às vezes mais, às vezes menos - com algumas imagens com que a memória nos tortura. a memória sempre nos faz voltar, e dói tanto, quando o presente é terrivelmente insuficiente. "apesar de", assombra-me uma cena: perto da última vez em que te vi, entrei num táxi, com a clara noção de que não era nada a última vez, apesar de meu corpo com maldade ainda desejar "o seu corpo que não é nem bonito, mas é o que quero". está vendo? por isso não devia escrever nada. tem muito o que dizer, mas me confesso demais. te dou muita certeza de que te esperarei para sempre (till i find somebody new), "apesar das ruínas e da morte". e quando a certeza é a ressurreição de uma ilusão cega? qual é a correspondência entre o sonho e a ilusão? para o calderón de la barca a vida é sonho, que vivemos e sonhamos, a um tempo, acordados. de olhos abertos me lembro de tantos momentos, de tantas vidas que incluem a vida que nunca chegaremos a ter, precisamente pelo fato de você não tê-la querido - muito por medo, e a outra parte por incapacidade de ser feliz e de saber viver contra o chronos, cujo sentido é oposto ao sentido que damos ao nosso destino.

apesar do tempo que a tudo arruína, apesar da destruição patente nos escombros, ainda espero, porque é o que me resta.

Um comentário:

Anônimo disse...

isso é tão dolorosamente familiar pra mim.