de sofrer e amar, a gente não se desfaz.

7.10.12

estava com saudades de viajar sozinha, ficar sozinha com os meus pensamentos, me alegrar ao ver uma coisa e poder lá ir, sem ser escrava do tempo.

o problema é que às vezes eu só consigo re-pensar no que eu já tinha pensado: como eu gosto de viajar de costas no comboio à hora de partir; parece que olhando para onde você veio, você não perde a experiência, faz aquilo durar um pouco mais. mas antes eu me sentava de costas e continuava a ver lisboa, até que não sei como, não sei por quê, chegava a cascais de costas.


Na areia branca, onde o tempo começa, uma criança passa de costas para o mar.
[eugénio de andrade]

hoje eu vi o mesmo, mas por outra perspectiva, ou seja: vim de frente pra cascais, de costas para a lisboa dos meus sonhos. foi muito diferente, já que em vez "da cidade a que chego se abrir como se do seu nome nascesse", o que ficava quase estático, mas com um movimento parecido com o dos discos voadores, que ora piscam num lugar ora noutro, era o farol do meio do tejo. aí me veio daquelas sensações: ("o que vejo a cada momento é aquilo que eu nunca antes tinha visto"): passei tanto tempo ignorando essa perspectiva... e agora me parece tão especial... (não sei, algo assim)

a gente precisa passar por essas situações: "o quarto mais barato que tivessem". arranjei um hostel de 12 euros num lugar um pouco sinistro de lisboa. mas na boa: a equipa, composta inteiramente de homens, está me bajulando que só, entre uns brasileiros e outros xarás, eu faço assim: conto com a sorte de terem me dado um quarto em que não tinha mais ninguém, e que seria exclusivamente de mulheres (mal sabem eles...). mas é só ladeira e aqueles pedregulhos que nego chama de calçada portuguesa (e essa civilização que aqui não chega?). 

estou descansada. vou.

2 comentários:

Na casca de limão disse...

Lembrou aquele Guimarães que diz “A vida de um ser humano, é impossível. O que vemos, é apenas milagre; salvo melhor raciocínio.”

viagem é mesmo coisa de viver no ainda mais impossível do que o cotidiano deixa ver, não é?

ou então meio "declaradamente impossível", ainda que quase sempre de jeito natural, como num sonho.

boa ida!
vê se volta!

fernanda disse...

acho que não volto mais não. mas tem um lado bom. você pode vir visitar!