de sofrer e amar, a gente não se desfaz.

21.1.13

não basta querer fazer, precisa saber como fazer

finalmente consegui ler numa tacada as primeiras 50 páginas da obra completa da fiama, como era dica da rosa, para vencer o medo. quer dizer, pulando os dois primeiros poemas, que eram os que me deixavam empacada, por causa de uma densidade impressionante. li assim, 2:30 da manhã, sem muita atenção - talvez fosse esse o segredo. e não é que engrenou? o enigma da poesia muito hermética se desfez, ficou até bastante claro (assim, tendo lido sem muita atenção). isso porque estou com uma vontade louca de fazer  um projeto de doutorado em cima da poética da brandão. mas tenho um pavor pânico.

quem falava desse negócio de medo pânico, com o pânico sendo uma espécie de adjetivo substantivado ou vice-versa, era o drummond, eu acho. não sei, não consegui achar nunca mais onde que eu ouvi isso pela primeira vez e me deu uma coisa aqui dentro, uma consciência do império do congresso internacional do medo, do império do pânico.

e me lembro do al berto, cuja antologia de poemas se chama o medo, não é uma coisa substantivamente portuguesa? o al berto era daqueles gays que pegaram aids e botavam as duas coisas em causa numa época que a pessoa não podia dizer um ai. numa entrevista ele diz:


- A questão da SIDA, por exemplo, quando se procura moralizar a questão. Para quê moralizar o problema – só porque é uma epidemia incurável com origem no sexo?

Mas não há um problema moral na SIDA?
– É capaz de haver. Quem apanhar SIDA está estragado, claro. E de hepatite, de cancro, de atropelamento? Ninguém está a tirar o peso ao problema. Mas não moralizem. Não criem novos leprosos. Em vez de se avisar as pessoas, começaram a condenar grupos particulares, com o desejo de regressar aos bons costumes…
de modo que atualíssimo nas questões (retrógradas) do dia.

então sobre a fiama, acho de fato que ela tem os melhores começos de poema da história.

Nesta janela de ver passar os barcos em vidraças,começo devagar a reescrever o mundo quedo que é o único que conheço e vivo e sei de cor vejo.

agora, o final, se fiama não sabe, não sou eu quem vou saber.

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