hoje passei pela praça dom joão I dentro do carro do pedro, o maldito rádio soando aquelas canções horrorosas aqueles jazzes, aquelas ellas fitzgeralds, quis morrer, porque isso é música pra ouvir debaixo das cobertas com essa chuva e neblina, tudo embaixo dum lençol em frente à lareira, e se calhar com almofadas que cubram glândulas animadinhas demais, agora eu com a minha própria casa na cidade do porto, essa que rebatizo de Iansã Invicta, passando pela praça dom joão I, no centro da cidade que pensámos em escolher para nós, que achávamos a mais acertada, a mais irónica, a mais inteligente dentre as cidades portuguesas e uma espanhola que percorremos juntas, hoje passo na praça que passei com um passo incerto, mas amparado, porque seguravas a minha mão, porque estávamos juntas e nos amávamos e tivemos quem sabe certamente o momento mais prazeroso em termos de reações cerebrais químicas que era: entrar numa banheira num quarto de hotel quase seu homónimo, e agora eu com esses acentos quase aculturados, custo a recolocar o brasileiro circunflexo, nós na banheira quente e com sabão quase até o tecto depois de ter passado o dia a andar, tu escrevias no espelho eu te amo, eu lia os lusíadas e era tudo bom porque era assim.
mas hoje eu realizei o nosso sonho conjunto, faltando um nada para ter um filho e chamá-lo do nome que escolhêramos para batizar os nossos - sem que eu saiba a previsão do parto, porque não fiz o pré-natal, acho que não o fazem em quem não está grávida - o certo é que não precisavas estar aqui, realizei-o por nós duas por um golpe talvez um pouco fortunado demais do destino, e graças ao fato de não estares mais comigo, não me amares mais, não precisares mais de mim (se é que algum dia já precisaste), o que importa é que venci e vivo sem você, que um dia andou comigo pela praça dom joão I e não fazíamos ideia de onde estávamos, e quem sabe não fazia ideia de quem eras mas de fato eras minha e eu era tua e fazíamos isso funcionar; depois passei a saber um pouco mais de quem eras, mas não era a altura de fazer funcionar mais, o troço degringolou de vez, mas acho que as melhores histórias são mesmo as que terminam em dois pontos
portanto aqui estou nesse carro com esse homem que não é nem um pouco meu mas com quem faria um casal com 67% de sucesso amoroso, mas que é teimoso demais pra se deixar querer, mas eu aceito, como aceitei a tua falta por três meses de paixão transatlântica, e depois os três meses que levaram pra coisa se acabar de vez, isso porque você não era suficiente rápida para ver o desastre antes de ele se manifestar, e eu via mas não dizia nada porque achava que podíamos acabar morando juntas no porto ou em curitiba ou aonde fosse que estava bom, isso até surgir o homem da minha vida e me emprenhar, como aposto que era o seu medo o tempo todo, gostaria até de ter feito isso que era pra te magoar duma forma que fosse inconsertável e te fizesse perambular pela praça dom joão I a pensar o que tinhas feito de errado mas então não haveria resposta.
ps: nunca mais tive notícias tuas.
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