de sofrer e amar, a gente não se desfaz.

15.3.13












a graduação me proporcionou umas coisas bacanas: primeira vez que eu vi a luiza não foi de ver nem de ler, na verdade. ela me entrou pelo ouvido. fui assistir a um colóquio sobre ela na faculdade. sem saber nada da obra mesmo. por isso que digo que faculdade nos traz coisas legais, estando a gente despido do preconceito.






a conferência não tinha começado, o "senhor professor doutor" entrou e foi testar se o disco funcionava. era algum crítico famoso dizendo os poemas dela num cd. era este poema:





Esclarecendo que o poema 
é um duelo agudíssimo 
quero eu dizer um dedo 
agudíssimo claro 
apontado ao coração do homem 

falo 
com uma agulha de sangue 
a coser-me todo o corpo 
à garganta 

e a esta terra imóvel 
onde já a minha sombra 
é um traço de alarme 

sem querer fazer um paralelo de propósito com o que diz o poema, senti minha garganta gelar, as cordas vocais se separarem em vontade de choro, sem sequer saber direito o que aquilo que tinha me entrado pelo ouvido (e por outras partes, apontado) significava no plano semântico, sei que senti que ia me apaixonar, e isso não ia ter a ver com intelecto. queria ter comigo o texto que escrevi naqueles dias de colóquio, era uma coisa que até pensava em virar texto de blog, mas acabou virando qualquer coisa entre a besteira de internet e um artigo acadêmico, e o uso ficou nada disso: é papel na minha pasta de anotações.

no brasil. e eu aqui, por acaso.

absorta em grãos
de areia, praia inequívoca onde,
na estação tardia, os do mar se deitam.



começo a não acreditar em acaso. lemos aquilo que precisamos ouvir em determinado momento. ou deixamos de ler porque não há mais o que nos tocar. o que me incomodava nesse grupo de poetas portugueses em que a luiza se insere era que eles eram apegados demais à tradição literária. sempre achei isso uma reflexão de segunda ordem, um lirismo de dicionário (aquele que para para averiguar o cunho vernáculo de um vocábulo). mas nos fins das obras, nenhum dos poetas fica assim. e esse negócio de dialogar com a cultura não é tão ruim, se for de vez em quando.



enfim, não sei se me estão aguentando.


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