tentando, no espaço de dois dias, reembarcar pro rio, depois de, na porta do portão de embarque, resolver voltar e rever o porto, gaia, (são) pedro, tudo.
já ouvi mais ou menos 3 discos, arrumei o álbum do facebook do porto em ordem cronológica, e até agora não chorei nem senti febre. parece que hoje vai ser menos dramático chegar ao rio. não sei. não há como prever. mas sei que fiquei calejada em: emagrecer minha mala (elas ficaram com 3 quilos a menos! sem eu ter jogado nada fora!); pular a fila do check-in já que tinham-no feito pra mim quando eu cheguei pra moça sobrecarregada no balcão do portão e embarque e falei:
- olha, desculpe, veja só: há a possibilidade de eu desistir desse voo pro rio de janeiro hoje e embarcar na segunda-feira? eu estou doente e sem dormir, vou chegar ao rio de madrugada...
mal sabia ela que o que eu queria era responder ao vivo uma mensagem de texto que recebi e desencadeou um choro que acompanhou a redação do post anterior. não respondi nada verbalmente, ao reencontrá-lo, mas com a minha presença física: sou alguém de quem não se sente saudades. forjo a minha onipresença onde estiver. refaço todos os caminhos se for preciso.
a moça disse que só havia voo no domingo, eu achei que tudo bem, contanto que fosse direto pro rio. na madrugada de sábado de são pedro d'afurada para domingo, dormi no sofá vendo um filme francês de comédia quase mudo. sonhei com o avião fazendo um pouso forçado e eu ficando puta porque tinha pagado caro e não ia direto pro rio. mas todos sobrevivíamos.
vim conversando com ele, no caminho pro aeroporto, sobre sonhos macabros que tinha durante minha depressão. ele insiste que nunca faria psicoterapia, a não ser que pudesse controlar e analisar exatamente o que o médico estava fazendo com ele. essa gente é completamente louca.
mas o meu sonho recorrente dos dentes caindo teve uma explicação que eu achei muito coerente: a gente só sente falta de uma coisa que já perdeu. nunca podemos sonhar com um membro mutilado, porque nunca ficamos sem um braço. mas como já estivemos banguelas, podemos abrir um precedente pra sonhar com a falta do dente. sabemos como é isso. aí o inconsciente nos faz desdentados e sangrando, representativo de algo que nos falta e sabemos como é.
me lembra trechos do eros, the bittersweet, agora que penso nisso: aquelas assertivas sobre o amor ser aquilo que nos falta, o desejo de preencher o espaço entre dois corpos. mas esse espaço lacunar existirá sempre. quando a anne analisa aquele poema da safo, o fragmento 31. então talvez sentirei a falta dele como se ele tivesse sido um dente meu. vai sangrar, que nem nos meus sonhos. mas depois de se desprender da gengiva, restará o dente inútil, sem função e não-amadurecido. posso fazer um colar com todos os dentes-amantes que sofri. e posso abrir espaço para que nasçam uns pela raiz. e que durarão até a velhice.
outra coisa que me inquietou enquanto tava na casa dele, e ele passava a tarde inteira de cueca na minha frente: acordei enquanto sonhava com umas frases assim, que não pude capturar como era no sonho, mas o sentido está aí:
você não acha que há de haver sempre uma pessoa feita para a outra, que as duas se dão muito bem, e que se deixassem de palhaçada iam ser muito felizes?
achar eu acho, se a natureza os fez assim é que é outro problema.
mas reconditamente eu acho. senão não tinha esperanças.
então é vergonha de admitir o que se acha? pros outros?
vergonha de admitir pra natureza. o que ela faz é sempre tão maior que as nossas escolhas, como: ficar de palhaçada. ficar de palhaçada é uma escolha.
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