de sofrer e amar, a gente não se desfaz.

1.7.15

autobiografia sem fatos

Seria muito mais fácil se eu só encontrasse um café onde pudesse me sentar e ler pelo valor de 01 tarde. Consegui me maravilhar com tortas, quando o que queria era o que tinha andado à procura nas noites anteriores: um bolo de morango e chantily. Mas o que tinham na vitine não era bem o que estava à venda, ou seja - por uma fatia eu precisava comprar o bolo todo. Não estava me sentindo tão empresária, então não fiz. Era preciso que eu conseguisse me sentar e ler o final de um livro de poesia até me arderem os olhos: era daqueles poetas herméticos. Mas vi a funcionária do café sendo maltratada pela dona do café e tudo isso me desanimou. Poesia uma hora dessas? Não importa se a duas portas daqui tinha sido o escritório do Fernando Pessoa, onde ele escreveu páginas do livro do desassossego, criando um guardador de livros que talvez desempoeirasse um volume de mensagem duas quadras daqui. Era indiferente se a duas quadras seria a rua dos douradores, se aqui se vendiam bolos dourados e não os que procurava. Aqui agiam com um bom humor a disfarçar um destrato pleno. O próprio jeito de decorar o café era a síntese da mímesis: as cores eram disfarçadamente antigas e desbotadas, mas o cartaz era de plástico. Tudo parecia desonesto e fingidor.

2 comentários:

Unknown disse...

nanda: é preciso poesia APESAR DE

Unknown disse...

poesia como esse seu texto...