de sofrer e amar, a gente não se desfaz.

11.3.15

the night belongs to lovers

inspirada pela ideia de "fale sobre a noite", que consta em algum programa televisivo brasileiro (e que paciência têm os meus amigos para pescarem isso pra mim), resolvi tentar a minha: as 20:47 horas de lisboa, de um fim de inverno que sabe bastante a primavera.

se eu abrir a janela da mansarda, há uma vista quase - saúde - panorâmica sobre a cidade. localizadas embaixo do castelo de são jorge, as águas-furtadas do prédio em que fica a mansarda abrigam um quarto com maioria de tons vermelhos. pode ser por isso que não consigo dormir muito bem. então falo comigo como a noite e me deixo ouvir. às vezes ouço gritos, às vezes dou gritos, mas em geral faço silêncio quando estou comigo.

mas se eu deixar a janela da mansarda fechada, a noite é majoritariamente escura no quarto nas águas-furtadas. se a noite pertence aos amantes, se a minha amante já dorme há muito, se não pretende acordar tão cedo, se eu a acordo com um grito (que não é meu), vai tudo por água abaixo.

por baixo da janela da mansarda, aberta ou fechada, um pedaço do teto inclinado chega até o chão. é nesse canto que está a parte úmida da casa. sempre hesito ao escrever úmido sem h, mas não hesito em escrever hesitar com e.

na parte úmida da casa uma bolha de mofo e armazenagem de água pretende cair no chão da mansarda, cedo ou tarde. por motivos de sono, preferimos que seja tarde. aliás, preferimos não estar aqui quando acontecer.

dizem os homens da obra que não deve acontecer, mas a verdade é que sempre pensamos no nosso teto, a lapa, o rio desabar

o rio aqui é o tejo. se a janela da mansarda estiver aberta e você estiver de pé sobre a cama, basta olhar para a sua esquerda. a ponte é mais visível que a água do rio, porque à noite é iluminada. mas a água está lá. já escrevi sobre o tejo outras vezes. minha amante odeia barulho de digitação. eu digo que isso é péssimo para quem trabalha com palavras.

à noite ela faz pipoca até a panela transbordar. demorou, mas acertou o ponto da pipoca. pipoca é vegana, se feita com azeite. o barulho da pipoca parecia o réveillon em copacabana.

falando em panela e réveillon, no dia de ano novo os portugueses dizem "bom ano!" e batem panelas na janela. qualquer semelhança com a realidade de guetos do país (daí) que estão sendo invadidos por  uma ditadura venezuelana não será mera coincidência.


2 comentários:

Samuel Carlos disse...

CARALHO. HOJE O EPISÓDIO DO CALADA NOITE FOI COM O NEY MATOGROSSO E A SARAH TOCOU ESSA MESMA MÚSICA, ESSA MÚSICA AÍ QUE VOCÊ POSTOU, PRA ELE E ELA FALOU ESSE VERSO AÍ QUE VOCÊ DESTACOU. E O NEY DISSE QUE TEM A VER COM PRO DIA NASCER FELIZ, DO CAZUZA.
(acordei alguém? [amei a bolha de mofo e o post sinestésico] {Outro dia li uma matéria dizendo que ter sensibilidade a pequenos ruídos, como o de pessoas mastigando, é uma porta aberta para a genialidade}).

fernanda disse...

que ela era gênia eu já sabia, mas é um pouco chato não conseguir estar do lado de alguém comendo ou digitando (pretty much tudo o que eu faço o dia todo). com essa coisa de fale sobre a noite eu pensei imediatamente nesse verso! e concordo, tem sim a ver com pro dia nascer feliz!